domingo, 14 de janeiro de 2018

Silêncio e solidão

Saí pro dentista hoje de manhã, sozinha. Tempo nublado, garoinha, uma música triste no rádio, de repente percebo que há mais de um mês que eu não dirigia sozinha pra lugar algum.
Eu costumava ir pra Lumos de carro, mas o trânsito foi ficando cada vez mais cansativo e ansiogenico pra mim. É um efeito colateral pra quem mora em São Paulo perder muito tempo de deslocamento e eu, que passei um tempo sem trabalhar fora de casa e mais algum tempo trabalhando pouco, qdo voltei, usava os percursos pra caraminholar, relaxar, ouvir vinte vezes a mesma música, cantar alto.
Conforme fui aumentando a minha carga horária de trabalho fora de casa, esses tempos de percurso aumentados pelo trânsito começaram a me fazer falta em outras atividades. Fora que dirigindo, não dá pra ler, por exemplo. Então comecei a usar bem mais transporte público, que no meu caso é bem mais rápido e eu ainda consigo usar esse tempo a meu favor, pra ler, responder coisas pendentes, enfim.

Mas, nossa! Como faz falta ter um tempo de silêncio e solidão pra mergulhar e ouvir os barulhos de dentro!

Sempre fui dos momentos de solidão. Eu costumava apagar todas as luzes de casa e colocar uma música triste, deitar e ficar olhando pro nada, pro teto, pra janela, pro escuro, imaginando, sonhando, desejando, chorando. Era um alento pra adolescente sonhadora e melancólica que eu fui.

O mundo adulto é muito chato, isso sim! Tem tanta coisa pra fazer que hoje em.dia eu não consigo mais ficar assim, olhando pro nada, pensando em nada, por isso oh tempo só, no carro, virou minha nova mania. E nestes dias de férias escolares, nem no mercado eu fui só. Estava com saudades!

Sei que vai chegar um tempo que as crianças vão crescer e vai sobrar silêncio e solidão. Pode até ser que atinja níveis insuportáveis. Mas hoje esses momentos em fazem muita falta! A gente vai vivendo, vivendo, nem se dá conta, passa o dia, passa a semana, o mês, o ano, o próximo ano... Muito bom parar, respirar, desacelerar, ainda q só uns minutos na semana, no percurso de volta pra casa, ignorando o mundo barulhento do lado de fora.

sábado, 24 de junho de 2017

Quem canta, em tempo, se encanta...

Quem canta, em tempo, se encanta. E, de quebra, seus males, espanta!




Toda vez que eu saio do coral, essa frase fica "dançando" dentro de mim!

Estou tão feliz que amanhã eu vou cantar! Estou me sentindo como criança se novo!
Hoje, quando estava à caminho do ensaio,fiquei especialmente emocionada. Acho que estava no pré a primeira vez que eu ouvi o coral da escola ensaiando. Fiquei encantada! Era tão, tão lindo! Não tive dúvidas de que eu queria fazer parte daquilo também.

Da minha lembrança, acho que pelo menos uma vez ao ano a escola abria testes para o coral. Mesmo sendo uma criança muito tímida, eu ia fazer os testes. Não lembro quantos eu fiz. Mas eu tentei, em vão, por muitas vezes, entrar pro coral.

Quando estava na oitava série, meu último ano naquela escola, por ocasião do aniversário da cidade, eu e duas amigas íamos recitar um poema na celebração. Mas toda vez q a gente ia ensaiar, a diretora nunca tinha tido tempo de escolher o tal poema e nós três ficávamos ali, esperando e ensaiando com o coral. Chegou o dia, nós cantamos o hino da cidade, lá no fim da fila. E eu achei que tinha realizado o meu sonho.

O tempo passou, ficou pra trás. 

Fui assistir a um filme, "A Bailarina" (escrevi sobre aqui), e a história do filme me fez lembrar de todos os meus antigos sonhos. Aí fui ticando todos eles e descobri que eu ainda tinha vontade de cantar. E fiquei pensando que, ao contrário do desejo de ser bailarina, que demanda uma disposição física que eu não tenho mais, cantar me pareceu mais acessível. E eu fiquei pensando que um dia desses eu ainda poderia fazer isso. E quem sabe até ter minha própria banda na terceira idade rsrs.

No início do semestre eu me inscrevi pra Oficina de Coral de Mães e Pais da EMIA. Nos outros anos eu já tinha olhado as oficinas, em especial a de bordados, mas nunca dava certo com meus horários. Este ano deu. E eu fui lá pra ver no que isso podia dar.

A diferença entre a professora dos testes do meu passado e da Vivi, minha professora de agora, é que, ao invés de me dizer que eu não tinha passado no teste, ela me acolheu e me ensinou. Acreditou que, não só eu, mas minha turma toda, podia sim cantar!

Fiquei pensando em todos os nãos que já ouvi na vida e que, sim, me tornaram mais forte. Mas pensei que ter uma mão pra segurar e ajudar a dar os primeiros passos, é o que de fato nos faz caminhar.

Pode parecer bobo para o resto do mundo, mas hoje, essa pequena realização, pra mim é o mundo inteiro!

Gratidão Vivi. Não sei que tarefa você recebeu quando assumiu essa oficina. Mas eu nunca vi nos seus olhos qualquer desaprovação para nenhum de nós ali nas aulas. Por isso hoje o meu desejo é que no mundo existam mais Vivis curadoras de sonhos!


Em tempo: só Deus sabe quanto de empenho precisei empregar nisso. Porque nessa fase da vida tem tanta urgência que vem antes de um desejo próprio, que toda terça era uma luta , seguir pra lá ao invés de ir atrás das pendências que sempre ficam pacientes me esperando e das quais nunca consigo dar conta (sempre sobra coisa pela metade). Mas o prazer e a alegria me acompam de volta pra casa, então na terça seguinte, vamos em frente!

Em tempo 2: no dia que cantamos o "Banaha" em cânone, fui transportada 34 anos no passado. E senti a mesma emoção de quando ouvi o coral da escola cantando o Hino da Independência: 

"Ou ficar a Paatria liiiivre, ou morreeeeer pelo Brasil
Ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil"

Amanhã de manhã tem apresentação. Estou ansiosa como nos tempos da escola, acho que virei criança de novo!

Em tempo 3: gratidão à minha turma do coral, que compartilham comigo toda terça a leveza e a graça, o poder de cura e uma boa dose de alegria, enquanto a gente tenta se entender entre pá pás, tum tuns e si si si si do lá dá...






segunda-feira, 5 de junho de 2017

Um novo corpo para cada nova fase da vida.

Eu, na chegada aos 40.
Quando Luiza nasceu, eu atravessei um longo "inverno" de conflitos  com o meu corpo pós-maternidade. Eu já havia passado por outros momentos de crise antes, faz parte do nosso processo de crescimento e amadurecimento, mas a maternidade me trouxe uma estranheza que eu nunca antes havia experimentado. Por algum tempo eu não me reconhecia mais no espelho. E era geral este estranhamento, da ponta dos cabelos até a última unha do dedo do pé.

Eu engordei muito na gestação, mas não era só uma coisa de peso. A textura da pele, a firmeza, as formas todas tinham mudado. O pé cresceu, o cabelo ficou mais grosso e rebelde. As velhas roupas não serviam e as novas nem em sonho me lembravam a moça magra, que se achou bonita na maior parte da vida. 

Nem meus olhos passaram ilesos por este estranhamento. Claro que eles não mudaram de cor nem formato, mas eles eram os faróis a lançar luz sobre tudo aquilo.

Lembro de um dia que eu fui alugar um vestido pra ser madrinha de casamento. Nenhum vestido me agradava, mas principalmente, eu não me sentia bem em nenhum. Eu não estava me sentindo bem dentro da minha pele, então roupa alguma se ajustava em mim. A pessoa que me atendia ficou extremamente preocupada porque minha auto-estima estava muito baixa. Ela tentou me acolher, foi doce, gentil, me abraçou e principalmente, encontrou um vestido no qual eu fiquei muito bonita. Mas não era questão de auto-estima também, eu só ainda não tinha juntado de volta todas as partes de mim que ficaram fragmentadas depois do parto (o puerpério faz isso com as mães e eu ainda estava nele).

Eu havia cortado o cabelo, feito camadas, porque ele já não era mais aquele cabelão que tanto me representava, estava diferente. Aí, quando ele estava ao natural, eu enxergava a minha irmã mais velha no espelho. Quando eu o escovava (eu adoro meu cabelo rebelde e adoro escová-lo também), eu enxergava a minha irmã do meio lá. E eu, aonde eu tinha ido parar?

Aos 6 anos.


Eu fui uma criança muito magrinha. Depois eu virei uma pré-adolescente que só tinha seios imensos pra idade e todo o resto de criança ainda (nessa época eu morria de vergonha de muita coisa). Aí eu virei uma adolescente muito bonita (eu me achava bonita), com pernas bem torneadas, uma cinturinha fina, mas muito mais que isso, meu cabelo enfim tinha ultrapassado a alça do sutiã e eu passei a amar meus olhos, o desenho da minha boca, o formato do meu rosto. Eu olhava no espelho e tinha uma mulher em formação lindíssima lá. Eu tive até um namorado na época que achava o máximo o fato de eu não enxergar defeitos em mim como normalmente se vê por aí (ainda mais nesta idade). 

A primeira vez que eu briguei com o espelho foi aos 16 anos, por conta de um cisto que apareceu bem no meio da minha bochecha, do lado esquerdo. Resolvi tirar e ganhei uma cicatriz horrorosa no lugar. Fiquei um tempo evitando o espelho, até que me refiz e voltei a me amar. 



Aos 16, dando uma de atriz, sou a de vermelho, à direita


E a cada fase nova da vida, eu ganhei um novo corpo. Depois do vestibular eu engordei um pouco e ganhei novas curvas. Depois de me casar eu engordei mais um pouco e ganhei, além das curvas, umas estrias e uns pneuzinhos também. 

Aos 20, dando uma de modelo
fotográfico.


Quando engravidei da primeira vez, eu já tinha 9 quilos e muitas curvas a mais do que quando entrei na faculdade, 13, quase 14 anos antes. E ganhei mais 18 quilos e muita plenitude durante a gestação, me sentia especial, iluminada e linda grávida.


Plena e iluminada com 8 meses da
gestação da Luiza, aos 32 anos.

Depois do parto, 7 quilos se apegaram a mim e junto com eles o espelho me mostrava um corpo que eu não reconhecia como sendo o meu. Curvas, marcas, sobras, nada se encaixava naquilo que eu já havia sido um dia.

Aí eu entrei numa espécie de busca desesperada por me achar de novo na velha pele. Fiz progressiva no cabelo porque pensei que aos 35 anos seria interessante ter um visual mais chique (eu, chique?). Num dos meus momentos de crise existencial comprei uma cinta pra apertar a barriga e fiquei me repetindo que eu havia comprado um pouco de auto estima por 35 reais. Fiz inúmeras dietas que davam certo, mas com resultados que não se mantinham por muito tempo, até que elas pararam de dar resultado e ficava cada vez mais difícil perder peso. Matriculei-me em academias, mas não conseguia frequentar por muito tempo (eu odeio academia, do ambiente ao tipo de exercício). Cheguei mesmo a encontrar uma só para mulheres que era uma delícia de lugar, mas ir até lá era uma tortura tão, mas tão grande, que eu enfim assumi que esse tipo de empenho não me representa e que só voltaria a fazer atividade física de novo quando pudesse pagar por uma que me trouxesse prazer acima de tudo. 

Assumi que eu amo comer e amo cozinhar. E mais, eu amo degustar o que eu cozinho e por isso dieta é algo que não cabe na minha vida, então não fiz mais. E não, eu não continuei engordando indiscriminadamente. Muito pelo contrário.

Quando engravidei da segunda vez, estava decidida a não engordar tanto. E assim foi, 7 quilos eliminados com 13 dias de pós-parto. Claro que algumas informações ajudaram, essa foi a consequência de uma busca que eu vinha fazendo já há muito tempo, assunto extenso pra outro post.


Pós parto do Gui, aos 39.


Mas a parte mais importante desta história foi quando eu ouvi o seguinte termo pela primeira vez: "auto aceitação"*. Isso reverberou dentro de mim por muitos dias. Eu já estava mais madura e já havia me refeito por completo do primeiro puerpério. Muitas coisas na minha vida já haviam retomado seus lugares e eu já tinha feito as pazes com o espelho. Já tinha resgatado minhas raízes da boa alimentação, e já havia compreendido e aceitado que o tempo se expressa não só na nossa "cabeça", mas no nosso corpo também. E isso não é uma coisa ruim não, pelo contrário. Eu passei a olhar as fotos de antes e me achar magra demais. Passei a enxergar que aquele corpo magro combinava com o tanto de experiência de vida que aquela menina tinha, mas que ficaria desconexo na mulher que me tornara. E ouvir este termo "auto-aceitação", personificou, nomeou, concretizou um processo pelo qual eu passava, tornando-o muito mais bonito e muito mais leve.

Eu estava com 38 anos e às vésperas de descobrir minha segunda gestação.

O que eu pude compreender nesta jornada é que não é sem razão que a forma física se movimenta na passagem do tempo. A cada fase precisamos de um corpo que a represente e a natureza, sábia que é, dá conta de trazer as modificações necessárias.

Quando crianças somos pequenos e leves, pra pular, correr, explorar, descobrir. Essa agilidade vai mudando conforme vamos ganhando complexidade de pensamento. Muda a imagem, muda a energia, o tempo vai se expressando em cada milimetro do corpo (qual é a novidade nisso?rsrs). Muda nossa forma de ver o mundo.

Qualquer pessoa que pare pra pensar sobre si mesma anos antes, verá sua evolução em termos de percepção e crenças. Isso se chama maturidade e vem com a experiência. E esta última só é possível existir vivendo. Não dá pra ter experiência sem experimentar. Assim, quando com 16 anos eu me achava muito adulta, pobre de mim que só começava a viver, não é mesmo?

Tem algumas marcas do tempo com as quais ainda estou em pleno processo de aprender a como lidar. Cabelos brancos, por exemplo. Aos poucos eles estão se achegando e eu me acostumando. Ainda seguimos sem intervenção alguma e hoje chego mesmo a questionar como será quando eles estiverem em maios número (para cada fase a preocupação que lhe cabe).

Assim como a Rita Lee diz que adora cicatrizes porque são tatoos da vida e a fazem lembrar de que ela foi mais forte do que aquilo que a feriu, eu aprendi que a cada nova fase da minha vida eu terei uma imagem nova que a abrace e represente.

Sendo assim, hoje eu procuro me alimentar melhor não porque eu deseje ser magra, mas porque isso me traz um bem estar global e que, inclusive, se reflete na balança. E tem momentos que meu cansaço quer mais é comer qualquer porcaria porque qualquer coisa que a gente se disponha a fazer bem feito, dá mais trabalho. Assim se as calças ficam mais apertadas na cintura, tudo bem, tudo passa na vida, logo elas voltam a ficar mais confortáveis (e voltam mesmo!). Eu, e todo mundo, tenho direito de não estar afim hoje e de afrouxar em alguns aspectos que podem ser afrouxados.

E eu ainda planejo fazer uma atividade física, não porque vai me por nessa exigência estética de me parecer com o padrão de beleza por aí. Não, de jeito algum. Quando eu fazia hidroginástica, por exemplo, por mais exausta que eu estivesse, seguia em frente e saía da aula renovada. Hoje meu dinheiro não paga essas aulas, mas quando puder pagar, vou atrás deste bem estar de me dedicar a algo que realmente faça diferença na minha semana. Eu não estou "malhando", mas tenho feito uma coisa que tem o mesmo benefício: estou cantando! Uma vez por semana eu tenho coral e chego mesmo a desconfiar que se eu seguir firme, até a balança pode vir a acusar alguns números a menos. Não porque queime muitas calorias, mas porque me faz feliz de um tanto bom.

Estampa de flores.

Não posso dizer que já cheguei num ponto bom de harmonia com meu corpo, estou em processo. Até porque envelhecer não é um lance assim tão tranquilo. Algumas coisas pegam às vezes, como tentar pular corda e perceber que isso ficou perdido no tempo e resgatar demanda muito mais esforço do que demandou quando tentei aprender lá nos primórdios de minha vida. Ou ainda, perceber que já estou desenvolvendo a "síndrome do braço curto" e está ficando difícil ler letras miúdas (pode rir, eu acho isso mais engraçado que trágico, mas é ruim mesmo assim).

Soma-se a tudo isso a chegada de outro filho. Nova fase, outro corpo. Novas buscas. O que tem de diferente é que a chegada aos 40 anos vieram junto com uma serenidade conquistada ao longo do tempo e depois de muitos conflitos e angústia. Hoje tenho a confiança de que, seja lá qual for o desconforto, vai passar. Porque sempre passa, né. E esse saber, para mim, se tornou suficiente para não deixar mais a ansiedade crescer ao ponto de se tornar maior que minha força e minha vontade de superar os obstáculos e desafios. Ou maior do que a minha confiança de que algumas coisas apenas precisam do tempo pra se resolver e mais nada.

Guilherme já está com quase dois anos e eu voltei a acessar meu armário de antes da gestação, só que nada lá cabe em mim com a mesma poesia de antes. Não é uma questão de peso, porque este continua o mesmo, mas de formas e de uma unidade e inteireza que se encontra em outro patamar agora, com outros jeitos e gostos.  E outros sonhos.

Pensando nisso, me inscrevi num workshop de estilo** (coisa mais linda de ver e viver) e, para minha surpresa (e susto, e espanto e sei lá mais o quê), dei-me conta de que hoje busco peças de roupa que se parecem com algumas que minha mãe usa (será uma identificação tardia? será que por que ela sabe se vestir melhor do que eu?). E passei a usar estampas de flores, coisa que eu simplesmente odiava na adolescência.

Mas o que sempre me define mesmo é o meu cabelo. E parar pra pensar em qual é o meu estilo me fez lançar luz sobre isso. Eu consegui deixar ele crescer no início da adolescência e meu cabelão rebelde foi o que me trouxe reconhecimento diante do espelho. Cortei meu cabelo curto em dois momentos da vida: no meio da faculdade, numa grande crise de identidade e necessidade de me reencontrar, e no pós maternidade, num movimento bem parecido, mas infinitas vezes mais intenso. Quando o Gui estava pra nascer, deixei meu cabelo crescer de novo e fui mantendo assim por uma questão de praticidade frente à demanda de um bebê (meu cabelo é muito mais administrável quando está longo). Em dezembro do ano passado tinha decidido cortar de novo, tenho a impressão que pareço mais jovem com os cabelos nos ombros, mas calhou que não consegui me organizar e chegou janeiro. Aí o cabelão voltou a ficar lindo e entramos num caso de amor de novo. Mais uns 3 meses, entramos em crise, mas eu não corto o cabelo no inverno, morro de frio no pescoço. Então decidi cumprir o ritual da vida inteira: agosto! Sempre me dei um corte novo de presente de aniversário (risos). 
De cabelo curto, 4° ano da faculdade e uma busca
 incessante por mim mesma.



De cabelo curto, aos 38. Uma das fotos
em que menos me reconheço.


Dentro deste caminhar de autoconhecimento, quando me vi ali naquela vivência de estilo, pensando sobre como eu já fui e para onde caminhei, de repente me vejo sem certezas com relação a este aspecto da minha imagem que tanto me definiu por tanto tempo. Vi esta semana fotos minhas com o cabelo curto e, definitivamente, não era eu lá. Assim como vejo fotos minhas da época da faculdade em que cortei o cabelo e não me vejo nelas também.

E esses questionamentos também chegam ao guarda-roupas, à pele e a acne que voltou com força total aos 40 e por aí vai.

É uma busca e eu não sei onde isso vai dar. E pra ser muito sincera, estou curtindo muito não saber! Como em todas as fases, esse sentimento me dá a chave pra abrir o portal das possibilidades e me lançar no caminho das experimentações. O novo corpo, da mãe de dois recém chegada aos 40 veio com uma serenidade capaz de tornar tudo isso um movimento muito gostoso e divertido. E olha, há muita beleza na imagem que reflete o que a vida tratou de imprimir em cada pedacinho. É apenas uma questão de aprender a enxergá-la. Eu estou aprendendo! Que venham as rugas e eu hei de encontrar um cabelo, um vestido, um sapato e uma bolsa que combinem com a história impressa em cada linha marcada no meu rosto e no meu corpo!

"Rapunzel" de novo. Foto tirada há
pouco mais de uma semana.

Aos 37: esta é uma das fotos que mais amo de mim,
 talvez eu volte a ter cabelos assim.







*Este termo eu ouvi da Vanessa Rodrigues, jornalista, uma das idealizadoras da ONG Casa de Lua, num encontro sobre carreiras, do qual nós duas participamos pelo Projeto " Cartas para o Futuro", no Centro Ruth Cardoso, em 2014.

** O Workshop "Meu Corpo Tem Novas Formas e Demandas: e Agora?" foi ministrado pela querida Anna Dias, uma mulher incrível que sentou-se na minha frente um dia desses na Lumos, e que a partir deste encontro muita conversa boa e muita sintonia tem rolado. Ela vai ministrar mais dois encontros, então ainda dá tempo de participar, corre lá!







quinta-feira, 11 de maio de 2017

A melhor mãe que eu consigo ser!

Ilustração linda da Camila Conti - quadro que ganhei de presente
por ter conseguido chegar aos 6 meses de amamentação da Pediatra
do Gui, a Dra Vânia. 
Convivo todos os dias com a minha própria maternagem e a maternagem de outras mães e essa convivência tem me ensinado muita coisa sobre a melhor mãe do mundo.

Quem é ela? Ela existe?

Faço parte de alguns grupos virtuais de maternidade e sempre que consigo, leio as postagens para me inspirar, para me sentir mais "normal" (risos) nos meus questionamentos e angústias. Por vezes tento ajudar se de alguma forma isso me cabe, enfim. E sempre que aparece algum desabafo falando dos próprios limites, eu tenho vontade de abraçar e contar pra essa mãe que ela é a melhor mãe que pode ser pro seu filho, mesmo que aos olhos dos outros possa parecer que não.

Inevitavelmente, quando nos tornamos mãe, viramos "mar". E todos os afluentes de nossa existência vem desembocar nesta nossa nova configuração de vida. E é quando nos surpreendemos sendo apenas rio, com nossa força que avança, mas que precisa lidar com os próprios limites.

Sim, mãe tem limites! E são muitos, viu, como todo mundo. E esses limites vão sendo construídos durante toda a vida, dentro dos recursos que cada pessoa tem, no encontro com o que cada uma vive, desde seu nascimento. E eles se mostram, muitas vezes, com uma força descomunal diante do dia a dia da maternidade.

Ao tornar-se mãe, todas as alegrias, boas lembranças, gratificações, frustrações, traumas e faltas ressurgem, como se nos tirassem toda a roupa da alma e ela se mostrasse na sua mais pura essência, sem máscaras, sem maquiagem, sem nem ao menos um lencinho cobrindo aquela dor antiga, mas ainda tão presente. E como é difícil, às vezes, se ver tão exposta. Pra si mesma, no seu dia a dia, na sua prática, na sua construção desta nova identidade.

Tornar-se mãe é lidar o tempo todo com suas forças e seus limites, por isso que eu acredito que toda mãe é a melhor mãe que ela consegue ser.

E dentro das regras e imposições e crenças e blá, blá, blá, tudo o que dizem por aí, pode ser muito pouco. Mesmo uma mãe não consegue dar aquilo que ela mesma não tem. Não teve, não sabe.

Mas nenhuma mãe no mundo merece ser julgada por isso. Nenhuma mãe no mundo merece se sentir culpada por isso.

Se você, que é mãe, acha que precisa carregar alguma culpa, que seja esta aqui: a de permitir que te fizessem acreditar que você precisa passar por isso e dar conta de tudo sozinha! Não, não permita!

Essa é a maior mentira que contam pras mães todas, a de que ela vai desenvolver o tal poder mágico do instinto materno e sempre vai conseguir dar conta de tudo sem qualquer tipo de ajuda!

Olhar pros próprios limites, tentar superá-los, aprender a contornar o que não é possível mudar. Ô tarefa difícil que é questionar toda uma existência, ver toda a bagunça de dentro exposta sem saber direito por onde começar a arrumar.

Peça ajuda, sem medo! Aprenda a se perdoar por não conseguir ser aquela melhor mãe descrita nos "manuais", ela não existe! Aprenda a se respeitar e se amar com toda a  sua existência, com todos os limites e faltas, pacote completo. E acredite, você é a melhor mãe que seu filho pode ter, você é a melhor mãe que consegue ser! E acredite ainda, mãe sempre tem dúvida, por isso mesmo busca sempre se superar. Às vezes é possível, outras não e tudo bem. 

Cada um tem seu caminho pra trilhar. se hoje você se vê na pele da protagonista de sua própria transformação, amanhã você será testemunha do caminhar do seu filho, suas influências serão muitas, mas os passos serão dele, assim como é conosco hoje e foi um dia com as nossas mães. Cada caminho é único e só admite um caminhante!

E pra encerrar, deixo aqui meu poeminha "semvergonha", que fiz pra homenagear as mães com quem estive ontem nos devaneios da quarta (feira):




Hoje é o seu dia
Assim como ontem
E amanhã.

Se alguém disser o contrário, balela!
Dia das mães é todo dia!

Feliz dia das mães!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Salvem a cor verde!!!

Pizza de rúcula com tomatinhos
Destas armadilhas que montamos a nós mesmas, uma em que eu caí bem direitinho, foi no quesito "alimentação" de filho.
Explico: eu fui uma destas crianças que não comia nada! (Leia-se, nada de arroz e feijão, o que aqui consideramos "comida"). 
Uma vez eu li um texto que se intitulava assim: "mamadeira, o tira fome das crianças". Eu fui uma criança que tomava mamadeira. Minha mãe, com medo de que eu passasse fome, me dava uma mamadeira pra garantir que eu estivesse alimentada. Coitada, eu não a condeno, sendo eu a quarta filha e tendo os outros três lidado bem melhor com a introdução alimentar do que eu, ela lutou com as armas que tinha.

Pois bem, um dia virei mãe. Preocupada em fazer diferente, eu sempre me empenhei em oferecer um cardápio variado e saudável, retardei ao máximo a introdução de doces e cia e nunca permiti que ninguém se metesse neste quesito. Por aqui foi peito muito tempo, mamadeira em horários bem determinados e nunca substituindo refeição alguma, mesmo que eu tivesse de cozinhar e oferecer a feira inteira, até que eu estivesse satisfeita. Veja bem, EU satisfeita. E tudo correu super bem. Mas um dia veio a falta de fome. E aí eu não soube entender que isso era possível, e caí na armadilha em que cai toda mãe: eu passei a insistir pra minha filha comer. (Mais um parênteses: como eu não comia um tanto de coisa, diversas vezes fiquei com fome, em festas, na casa de amiguinhos e parentes, até na escola).

E aí ela brigou com o verde. E brigou com outras cores também. Mas o verdinho, huuummm, "tira esse verdinho" "o que é esse verdinho?".

Estava fazendo pão e eu fiz um de ervas. Aí separei parte da massa pra modelar uns pequeninos pra minha filha levar pra escola, só que sobrou um verdinho na bancada e alguns pequenos acabaram ganhando umas ervinhas. Pois bem, isso me fez lembrar de uma palestra virtual do Carlos Gonzales, aquele pediatra catalão, sobre introdução alimentar, em que ele diz que ninguém precisa ficar insistindo pra criança comer um chocolate, porque fazer isso com as verduras então? Se a pessoa precisa insistir, deve ser porque isso não é bom. E assim nascem algumas histórias de comer errado que, a longo prazo, pode ter consequências desastrosas. Um dia passamos dos 40 e o médico manda comer verdura porque o colesterol está alto. Ou porque estamos acima do peso, ou porque, bem, a lista é enorme. E salada vira remédio que tem tomar tampando o nariz pra conseguir engolir. 

Mas veja bem, o verde é uma cor de total importância pra nossa sobrevivência! Além de ser uma cor linda, cheia de nuances. Então por que, POR QUE, fazemos isso com nossas crianças???, Por que não as ajudamos a crescer amando o verde e assim elas podem estar em paz lá adiante, sem precisar acrescentar esta cor à sua alimentação apenas por recomendação médica? 

Em tempo: eu não comia feijão (e não como ainda) e este era o grande martírio da minha mãe. Talvez se ela não se incomodasse tanto, em algum momento da vida eu e ele nos reconciliássemos (como saber?). Mas como a mesa de casa sempre foi farta em vegetais de todos os grupos, tirando a serralha e a catalônia, que são amargas demais, eu adoro verdura e como sem me sentir sendo torturada, ou seja, eu não comia aquele "pratão" de arroz com feijão, mas cresci com bons valores e aprendi muito mais com eles do que com qualquer artifício usado pra me convencer (meus pais sempre se alimentaram muito bem e meu pai era militante da alimentação natural e orgânica. E minha mãe é cozinheira fabulosa!). 

E como a educação vem principalmente pelo exemplo, apesar de implicar com "aquele" verdinho, a pizza favorita da Luiza no momento é a de rúcula. E sim, ela come a verdura toda, ou seja, acho q não estamos errando tanto assim. 

O que eu aprendi nestes anos de maternidade, principalmente com os meus erros e meus exageros, é que a hora de comer pode ser muito mais legal se a gente pega leve e tenta compreender as nuances do comportamento da criança (tem hora que come melhor, tem hora que come pior, tem hora que gosta do vermelho, tem hora que odeia e por aí vai.) Nosso papel é oferecer e dar o exemplo, mesmo sendo um processo muito exaustivo às vezes (quem ouve minha mãe contar, percebe o cansaço dela em tentar de tudo pra me fazer comer, por isso nem vou falar do meu próprio). 

Eu ainda quero explorar mais este assunto e compartilhar algumas informações e reflexões, mas em postagens futuras. Por hora, deixo o apelo: salvem a cor verde! (E esta frase tem muitos desdobramentos, se for pensar bem!)

Pra finalizar, comecei este texto na terça, mas como toda mãe, só estou conseguindo finalizar ele hoje, que é quinta (ufa!) . O bacana é que tenho o desfecho da história: Luiza levou os pãezinhos pro lanche e eu não ouvi nenhuma queixa com relação à um possível intruso, acho que ela nem notou, mas se notou, nem ligou. Ficou gostoso e isso foi o bastante!

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A Mancha de Chocolate

Participei hoje de uma aula-degustação de chocolate. Deixei minha mocinha na escola e caminhei me sentindo plena até o metrô.

Quanta dignidade pode existir num simples sutiã. Fui pro evento usando um daqueles tipo "pescador", que abotoa na frente, com bojo e aro. Usei uma blusa de tecido firme, que não vestia há quase dois anos exatamente por precisar deste acessório pra ficar bonita. Coloquei uma saia. Nada de sutiã de amamentação, blusa que cede, moda pensada para o estica e puxa, abaixa e levanta da maternidade. Estava realmente me sentindo linda e plena, cabelos ao vento (ou ao sol de rachar, mas está valendo também). Estou aos poucos retomando minhas atividades profissionais e estou mesmo bem feliz com isso.

Aí, em certa altura da aula, me estiquei pra apanhar um punhado de manjericão para deixar ainda mais saborosa minha panqueca de queijo com tomatinhos. No meio do caminho tinha uma badeja de chocolate em pedacinhos. Tinha uma bandeja de chocolate em pedacinhos. (Não, eu não a vi).

Sem filhos, sem vestimenta apropriada, mas com mancha de chocolate na roupa. E assim termina a minha história. Fim!


Self no elevador

*Por sorte já transcendi a fase de me incomodar com isso. Dei boas risadas com quem estava por lá e viu o desastre, e voltei pra casa como se a mancha fosse parte do figurino, assim como a maternidade é parte importante de mim.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O que vai mundoadentro


Eu queria ter um software, aplicativo, teclado virtual, qualquer coisa, que transformasse meus pensamentos em textos. Sai cada coisa doida e cada coisa linda (eu acho rs) da minha cabeça! E eu sempre fui assim.


Foto de @retratoimaginario - Ju Vasconcelos
.
 Qdo menina eu fazia poesias, mas nunca que elas eram as mesmas quando conseguia fazê-las chegar ao papel,raras vezes conseguia ser rápida o suficiente para não perder a essência. E em se tratando de poesia, uma palavra trocada e já era.


às vezes eu andava na rua repetindo versos, distraída do mundo. o que me rendeu uma má fama de "metida". Metida, eu?


Só se for metida a piração, só pode ser rsrs. Mas é certo que, nessas horas, eu não cumprimentava ninguém mesmo na rua, não por me achar isso ou aquilo, mas porque eu não via nada ao meu redor mesmo, estava por demais ocupada com meu mundo interno e minha cabeça cheia de ideias e devaneios.

Devo confessar: de lá pra cá, bem pouca coisa mudou!